“É mais rápido resolver sozinho do que explicar para alguém.”
“Preciso supervisionar tudo de perto, senão as coisas podem desandar.”
Essas são frases comuns entre organizadores de eventos esportivos que sentem a necessidade de controlar cada detalhe. Eles acreditam que só terão sucesso se estiverem envolvidos em todas as decisões, acumulando tarefas e centralizando responsabilidades.
Mas será que essa busca por controle absoluto está realmente ajudando ou limitando o seu crescimento? Já parou para pensar nisso?
Ao longo de mais de uma década atuando com organizadores e um bom tempo estudando sobre comportamento, percebi que muitos profissionais dessa área compartilham dessas características, que, na minha visão, limitam seu crescimento e produtividade. Eles tendem a acumular tarefas excessivas, têm dificuldade em delegar responsabilidades e adotam um perfeccionismo extremo. Em tempos de excesso de estímulos e distrações, na chamada “era da atenção”, essa necessidade de controle total só intensifica o problema. Em vez de focar nas prioridades estratégicas, eles se sobrecarregam com tarefas menores e se distraem com detalhes irrelevantes. Essas características lembram o transtorno de personalidade obsessivo-compulsiva (TPOC), que envolve uma busca constante por controle e perfeição, mas que, irracionalmente, compromete a eficiência e a flexibilidade, especialmente em um ambiente onde a capacidade de gerenciar o foco é essencial para o sucesso.
Você se sente assim?
Acompanhando de perto o dia a dia de vocês, os organizadores, percebi que muitos acreditam que, ao estarem no controle de tudo, podem garantir o sucesso do evento. Mas será que isso é verdade? Eu mesmo vivi isso no início da minha carreira no mundo das inscrições online, com uma necessidade constante de estar envolvido em cada detalhe, centralizando decisões e assumindo mais tarefas do que deveria. Essa busca por controle absoluto acabava me fazendo perder o foco no que realmente importava, consumindo tempo com detalhes que poderiam ser facilmente delegadas ou repassadas para um parceiro de confiança.
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O resultado? Prazos se prolongavam, o desgaste físico e mental era inevitável, e o crescimento do projeto ficava limitado pela minha própria capacidade de execução.
Diversas pesquisas mostram que o cérebro humano é altamente suscetível a padrões de comportamento repetitivos, especialmente quando esses comportamentos estão ligados à busca por controle. Quanto mais reforçamos esse hábito, mais difícil se torna delegar e confiar nos outros. Mesmo após anos de experiência, ainda me vejo precisando me policiar constantemente para não cair no ciclo de querer fazer tudo sozinho. Esse é um esforço consciente, e sei que muitos organizadores enfrentam o mesmo desafio. Essa dificuldade em abrir mão do controle é um obstáculo real, não apenas para o crescimento do seu evento, mas também para o desenvolvimento pessoal e profissional.
Esse perfil comportamental pode ser compreendido, em parte, pelo que a literatura psiquiátrica descreve como transtorno de personalidade obsessivo-compulsiva (TPOC). Diferente do transtorno obsessivo-compulsivo (TOC), o TPOC não envolve obsessões verdadeiras, como pensamentos repetitivos, intrusivos e ansiosos, nem compulsões ritualísticas. Em vez disso, o foco está na necessidade extrema de controle, perfeição e organização. A obsessão com detalhes e a dificuldade em delegar são características centrais desse transtorno e, em casos mais severos, podem impedir a pessoa de ser eficaz em seu trabalho e de aproveitar momentos de lazer. Embora eu não esteja dizendo que todos os organizadores de eventos esportivos tenham esse transtorno, muitos apresentam traços que, de fato, podem prejudicar sua performance e limitar seu crescimento. Se você se identifica com esses comportamentos, pode ser interessante conversar com um profissional para entender melhor se esses traços estão presentes em você e como podem ser trabalhados.
A psicologia reversa, quando aplicada de maneira estratégica, pode ser uma ferramenta poderosa para você, organizador, reverter comportamentos que limitam seu crescimento. Ao invés de ouvir conselhos genéricos como “relaxe” ou “deixe de ser perfeccionista”, que muitas vezes parecem ameaçar sua sensação de controle, pense na delegação como uma chave para garantir o sucesso e o controle que você tanto busca. Ao confiar mais na sua equipe e liberar algumas das tarefas que você normalmente acumula, você não estará perdendo o controle, mas sim fortalecendo seu papel como líder e permitindo que sua equipe cresça junto com você.
“O ato de delegar, não somente contribui para o seu papel como líder, que é abrir o caminho para que as pessoas se desenvolvam, como também te faz ganhar tempo para trabalhar naquilo que esperam de você como líder e que hoje você diz “não tenho tempo” — Stenio Moura, especialista em Produtividade da Vida Real, Gestão de Tempo e Liderança
Delegar não é sinônimo de perder o controle, mas sim de obter mais eficiência e produtividade. Esse processo permite que você foque no que realmente importa e tenha uma visão mais ampla do projeto como um todo. Com essa abordagem, sua capacidade de liderança se expande, permitindo que sua equipe cresça junto com você, enquanto você mantém o controle das decisões estratégicas que visem o sucesso do evento.
Dicas para não cair na cilada de não delegar:
Priorize suas atividades: Faça uma lista de suas responsabilidades e destaque aquelas que realmente precisam de sua atenção. Delegue as tarefas que podem ser executadas por outras pessoas.
Confie na sua equipe: A confiança é um elemento-chave para delegar com sucesso. Delegue tarefas baseadas nas habilidades de cada membro da equipe.
Evite microgerenciamento: Após delegar, permita que a equipe execute as tarefas com autonomia. O livro “Leaders Eat Last” de Simon Sinek aborda como líderes eficazes confiam em suas equipes para tomar decisões e entregar resultados.
Desenvolva a mentalidade de crescimento: De acordo com Carol Dweck, no livro “Mindset”, adotar uma mentalidade de crescimento ajuda a enxergar falhas como oportunidades de aprendizado, facilitando o processo de delegação.
Estabeleça processos claros: Para delegar com eficiência, crie processos que guiem sua equipe. Assim, mesmo que você não esteja supervisionando diretamente, a qualidade do trabalho será mantida.
Faça check-ins regulares, mas com equilíbrio: Agende revisões periódicas para garantir que tudo está indo conforme planejado, mas evite interferir no processo a todo momento.
Transformar esse comportamento requer mais do que uma simples mudança de atitude. Trata-se de reconfigurar a maneira como o cérebro reage ao estresse, ao controle e à confiança nos outros. Delegar não significa perder o controle, mas sim ganhar eficiência e espaço para crescer, algo que percebo cada vez mais em minha própria trajetória.
Fontes:
Transtorno de personalidade obsessivo-compulsiva: MSD Manuals
A neurociência da mudança – Como superar a resistência e promover a adaptabilidade nas organizações: MIND Station