Série Especial: A jornada de Carlos – Do Perrengue ao expert no mundo das corridas de rua – Episódio 1
Km 1: “O Primeiro Passo” – Quando Carlos decidiu organizar seu primeiro evento
Carlos sempre foi apaixonado por corridas. Era aquele tipo de atleta que não só acordava às 5h da manhã em um domingo para pegar a medalha, mas também fazia questão de postar nas redes sociais com hashtags como #VidaDeCorredor e #MedalhaConquistada. No entanto, junto com o entusiasmo, vinha um olhar crítico. Depois de participar de dezenas de provas, ele tinha sempre algo a comentar: “Esse isotônico parece água com açúcar,” ou “Quem colocou essa subida aqui? Um sádico?”
Até que um dia, durante mais uma dessas análises pós-corrida, Carlos teve uma epifania. “Eu posso fazer melhor!”, pensou. Naquele momento, ele não só acreditou que tinha todas as respostas, como também decidiu que estava na hora de fazer história.
Motivado pela confiança (e, sejamos honestos, pelo ego), ele anunciou em um almoço de domingo com a família:
“Vou organizar minha própria corrida de 5K!”
A reação foi… mista. Alguns familiares foram genuínos no apoio: “Vai ser incrível, Carlos!” Outros, nem tanto: “Se você precisar de cones, eu conheço um amigo que tem uns quebrados.” Mas o coro geral foi o mesmo: “Boa sorte!”
Carlos, porém, não ligou para as entrelinhas. Ele já estava visualizando a linha de chegada, os atletas agradecendo sua genialidade e as redes sociais explodindo com elogios ao evento. Afinal, como poderia ser difícil? Ele corria há anos! Era só replicar o que viu nas provas, certo?
Errado.
Com um mês para planejar tudo, Carlos começou sua jornada de organizador. Ele fez listas, entrou em grupos de WhatsApp de corrida e até conseguiu um desconto especial com fornecedores. Ele estava confiante. Mas, como qualquer veterano sabe, a corrida da vida real não é só sobre largar e chegar.
E então, chegou o grande dia.
O grande dia: Largada do caos
A manhã estava ensolarada, os atletas já se aglomeravam na largada, e Carlos vestia orgulhosamente sua camiseta branca com “ORGANIZADOR” escrito nas costas — porque, claro, o uniforme é meio caminho para o sucesso. Ele respirou fundo, olhou para sua equipe com confiança e perguntou: “Está tudo pronto?” O aceno positivo veio acompanhado de sorrisos otimistas. Mas, como todo organizador de primeira viagem aprende rápido, o caos não avisa antes de chegar.
Em questão de minutos, tudo começou a desmoronar. Primeiro, uma colisão inesperada no km 2, a dois passos do retorno da corrida, fez com que a largada atrasasse uma hora inteira. Carlos tentou disfarçar o desespero com frases motivadoras como “A segurança é prioridade!”, enquanto atletas bufavam e discutiam estratégias para não perder o aquecimento.
Foi então que ele percebeu que “tudo pronto” era só um jeito educado da equipe dizer “Boa sorte, chefe, vai precisar!”.
1. O cronômetro não ligava.
Carlos, sempre em busca do melhor custo-benefício, alugou o cronômetro mais barato que encontrou, oferecido por um fornecedor que chegou com um preço “irresistível”. Mas o barato saiu caro. Na hora da largada, o visor do equipamento estava apagado como se tivesse entrado em greve. A equipe tentou de tudo: trocaram pilhas, sacudiram o aparelho e, claro, chegaram ao clássico conselho desesperado: “Sopra o botão, vai que resolve!” Nada funcionou. Sem opções, Carlos subiu no caixote da largada e gritou com toda a força: “Vai!”. E assim, a corrida começou… oficialmente sem tempo oficial.
2. Os cones mal posicionados.
Carlos, em sua ingenuidade, achou que “um cone aqui, outro ali” seria o suficiente para marcar o percurso. Mas a realidade deu uma rasteira digna de um sprint final. No segundo quilômetro, enquanto parte do pelotão seguia o trajeto correto, outra galera resolveu fazer um city tour… numa avenida super movimentada. Corredores corriam entre os carros, desviando de motos e buzinadas, e até um cachorro começou a acompanhar o grupo. A cena foi tão surreal que viralizou nas redes sociais, com o título: “Corrida ou Jogo do Frogger?”. No fundo de um dos vídeos, alguém gritou: “Não vale medalha se não sobreviver ao trânsito!”.
3. A camiseta torta.
Carlos, claro, quis economizar e confiou as camisetas ao amigo de um amigo que “faz tudo mais barato”. No dia anterior ao evento, ele abriu as caixas cheio de expectativa, só para ser recebido por uma cena de terror: o logo parecia um quebra-cabeça cubista mal resolvido. E os tamanhos? GG parecia P, P parecia roupa de boneca, e havia uma pack de M que mais parecia uma camiseta encolhida na máquina de lavar. No final, muitos corredores saíram sem camiseta, mas pelo menos com uma história digna de contar na roda de cerveja pós-prova.
4. O isotônico improvisado.
Carlos só percebeu o desastre quando o caminhão do fornecedor chegou com apenas 30 garrafas para mais de 200 inscritos. Sem tempo para lamentar, ele correu até o mercadinho mais próximo, comprou tudo que parecia líquido e “esportivo” (leia-se: refrigerantes), e serviu em copinhos de café reaproveitados da sala do staff. O resultado? Um atleta tomou um gole e perguntou: “Isso aqui é isotônico ou uma nova linha de energéticos de guaraná com gás?”
5. A fila dos kits.
Carlos tinha certeza de que a entrega dos kits seria um passeio no parque. Afinal, o que poderia dar errado? Mas a realidade chegou correndo na sua direção: atletas atrasados apareciam como quem esqueceu o aniversário da namorada, outros juravam que tinham recebido o comprovante por telepatia, e ainda havia os que resolveram buscar o kit do amigo, do primo e, se deixassem, do vizinho também. No final, Carlos estava suando tanto que os corredores começaram a perguntar se ele tinha acabado de completar os 5K junto com eles.
A Realidade Bateu Forte
Quando o último corredor cruzou a linha de chegada — ou o que deveria ser a linha de chegada, já que a fita ainda estava “presa no trânsito” junto com o resto dos sonhos de organização de Carlos —, ele só queria se esconder. Estava exausto, suado, e com a certeza de que seu uniforme de “ORGANIZADOR” carregava mais peso do que ele imaginava.
O dia foi um desfile de críticas (algumas construtivas, outras dignas de um stand-up):
- “O percurso tinha mais de 6K, eu medi no meu GPS. Isso aqui é corrida ou um teste de resistência?”
- “A camiseta não deu em mim, mas obrigada pelo novo pijama.”
- “Você devia fazer outro evento… Só pra gente rir mais um pouco.”
Carlos ainda tentou sorrir, mas era difícil. Até o senhor da varanda, que ele jurava ser apenas um observador passivo, apareceu para dizer: “Da próxima vez, coloca mais cones, filho.”
De volta para casa, recolhendo os cones que sobraram e analisando o estrago emocional, Carlos refletiu profundamente.
“Eu não fazia ideia do trabalho que dá organizar um evento. Mas eu não vou desistir.”
E assim começou a jornada de Carlos no mundo dos eventos esportivos: um caminho cheio de erros, improvisos e lições aprendidas no suor e na raça. Ele sabia que tinha muito a melhorar, mas também tinha a certeza de que essa corrida — a da superação — era só o começo. E, como em toda boa prova, cada tropeço seria uma chance de se tornar melhor.
“O que acontece quando um organizador percebe que não pode confiar apenas na boa vontade? Descubra, os novos desafios de Carlos no próximo episódio: ‘Lições da segunda corrida’ – O dia que Carlos aprendeu sobre fornecedores!“