Maratona de Lisboa: Recorde pessoal, história e reflexões sobre o passado e o futuro

Participar da minha primeira prova internacional foi um marco importante na minha vida e carreira, trazendo uma grande oportunidade de reflexão sobre como melhorar a experiência dos atletas, pelo olhar de um deles.
Dito isto, trago a vocês um pouquinho deste momento que vivi na Maratona de Lisboa. A cidade, com sua rica história, monumentos icônicos como a Torre de Belém e o Mosteiro dos Jerônimos, além de suas charmosas ruas e palácios, proporcionando uma experiência ainda mais incrível. Essa atmosfera, além de inspiradora, me fez refletir sobre como organizadores podem aprimorar seus eventos, integrando ainda mais a oferta de serviços complementares para criar uma experiência completa para os atletas, que vão muito além da corrida em si.
Eventos como esse têm o potencial de conectar os participantes não só com a prova, mas também com a cultura e a história do local, tornando a jornada ainda mais acolhedora e enriquecedora para todos os envolvidos — algo que pode ser amplamente explorado em diversos eventos no Brasil, aproveitando a riqueza cultural e turística que temos em diferentes regiões do país. Prontos para esta viagem? Então vamos nessa!

A Maratona de Lisboa, com sua excelente organização e envolvimento da cidade, me inspirou a pensar em como podemos agregar ainda mais valor aos eventos esportivos no Brasil. Vejo um enorme potencial inexplorado em todo mercado, que cria uma experiência mais imersiva. Essa visão de tornar os eventos mais centrados no atleta é algo que acredito poder ser explorado em todos os cantos do mundo, oferecendo ainda mais motivos para nós, os atletas, participarem e se conectarem com as cidades que visitamos.
A escolha da Maratona de Lisboa, em Portugal, não foi por acaso. Além de ser uma das maratonas mais bonitas do mundo, participei dela também para celebrar meu aniversário, que é no dia 09 de outubro, com a prova acontecendo no dia 06. Para coroar essa experiência, ainda consegui bater meu recorde pessoal na meia maratona, concluindo a prova em 01:34:07.
O evento reuniu três distâncias: a Maratona completa, a Meia Maratona e uma prova rústica de 8 km, participativa e *sem chip (*pois é, algo que estranhei também), todas realizadas no mesmo dia, no domingo. Escolhi a meia maratona e, segundo meu Strava, percorri 21,3 km, mas isso em nada tirou o prazer de participar dessa prova internacional tão aguardada.

O percurso foi absolutamente extraordinário, super técnico, começando pela largada na impetuosa Ponte Vasco da Gama, uma das mais longas da Europa e com uma logística de ônibus transfer para o acesso as ondas digna dos melhores conceitos de cooperativismo e urbanismo que já tive o prazer de presenciar. Correr ali, com uma vista de tirar o fôlego logo no início, foi uma experiência única. O trajeto seguiu pelas ruas históricas de Lisboa, passando por monumentos e locais emblemáticos, culminando em uma chegada incrível na Praça do Comércio, de frente para o rio Tejo. Essa chegada foi especialmente marcante para mim, pois não pude deixar de lembrar os aprendizados dos tempos de escola, quando estudamos como os colonizadores portugueses, centenas de anos atrás, também cruzaram mares em busca de novos desafios. Esse tema é amplamente difundido na cidade, refletido nos incríveis pontos turísticos que visitei, o que tornou a experiência ainda mais significativa.
“Fizemos a prova em família e cada um completou em tempos diferentes, mas todos compartilhamos da mesma experiência incrível. A organização foi muito boa, com pontos como a água em garrafas, apesar de estar em temperatura ambiente. Algo que nos chamou atenção foi a presença de escoteiros como staff, entregando água, gel e frutas, além de incentivar os corredores com muita animação. O transporte até Cascais funcionou perfeitamente, e o clima da prova já começava no trem. No início, as ruas estreitas em Cascais dificultavam o desenvolvimento do ritmo devido ao grande número de pessoas. E as meninas me lembraram de uma das melhores partes: na linha de chegada, fomos surpreendidos com sorvete, em vez da tradicional banana, o que foi uma forma deliciosa de encerrar a prova!” — João Galdino, maratonista e diretor de tecnologia no Portal R7.
Ao comparar Lisboa e o Rio de Janeiro com nossa atual maior prova do país, é interessante observar as diferenças em tamanho e impacto turístico. Lisboa, com cerca de 545 mil habitantes em sua área central, é significativamente menor que o Rio de Janeiro, que tem uma população de aproximadamente 6,7 milhões de pessoas. No entanto, a área metropolitana de Lisboa, que inclui várias cidades ao redor, possui uma população de cerca de 2,8 milhões de pessoas, o que aumenta o impacto regional da maratona representando 41,8% a menos da população do Rio de Janeiro, segundo dados do IBGE de 2022.
Atualmente, o Rio de Janeiro é o cenário da maior maratona do Brasil, que em 2024 contou com 45 mil participantes e cerca de 9.813 concluintes na distância principal. O impacto turístico desse evento é enorme, movimentando setores como hotelaria, restaurantes e comércio, e atraindo turistas nacionais e internacionais.
LISBOA 30 MIL APAIXONADOS POR CORRIDA
Já Lisboa, com mais de 30 mil participantes distribuídos nas três distâncias da prova, segundo dados da organização, tem um impacto proporcionalmente significativo, mesmo sendo uma cidade menor. A capacidade de atrair atletas e turistas de diversas partes do mundo para um evento desse porte destaca o papel do esporte como um poderoso impulsionador do turismo e da economia local. Durante a espera para o início da corrida, era incrível a diversidade de idiomas, mas todos mantendo o mesmo “jeito” de tribo — a dos universais corredores. Isso trouxe um ar multicultural ao evento, mas, ao mesmo tempo, um forte senso de pertencimento. Foi simplesmente incrível e reforçou o quão global a corrida de rua e o esporte pode ser, unindo pessoas de diferentes partes do mundo em torno de uma mesma paixão.
A organização da prova, a cargo da Running Portugal, demonstrou uma robustez e uma simplicidade admirável. Lisboa respira o evento, e a cidade parecia estar em perfeita sintonia com os atletas. Desde a Expo, onde retirei meu kit rapidamente e sem complicações, até a logística impecável de transporte público gratuito, tudo funcionou como um relógio. No entanto, houve algumas oportunidades de melhoria, como da hidratação — com água em temperatura ambiente, algo incomum para quem está acostumado às provas brasileiras — e os pontos de abastecimento um pouco mais escassos.
Gostaria de deixar claro que este relato é um depoimento pessoal, refletindo minha experiência específica no evento. Outras pessoas podem ter percepções diferentes, mas como parceiro de quase mil organizadores atendidos anualmente pelo Ticket Sports, que conecta diversos organizadores e stakeholders de eventos esportivos no Brasil, achei importante compartilhar essas vivências com meus parceiros e colegas. Acredito que essa troca de experiências pode nos inspirar e contribuir para aprimorar a organização de nossos próprios eventos no Brasil.
Minha avaliação do evento é um NPS de 8, certamente voltaria e recomendo a prova, considerando algumas sugestões de melhorias que poderiam elevar a experiência dos atletas participantes. Uma delas, que considero importante também para eventos no Brasil, é a necessidade de uma comunicação mais fluida com os atletas, utilizando canais mais dinâmicos e multicanal, como SMS ou notificações por aplicativos, especialmente nos dias que antecedem o evento. Isso facilitaria o acesso a informações essenciais, como horários, localizações e detalhes logísticos, reduzindo a ansiedade de nós, corredores.
FORTALECER A CONEXÃO DA MARCA COM OS ATLETAS
Além disso, reforçar o branding da marca ao longo da jornada de comunicação é um ponto fundamental. Cada interação, seja por e-mail, SMS ou aplicativos, é uma oportunidade para fortalecer a conexão da marca com os atletas. Um branding consistente e bem executado não apenas cria uma experiência mais conectada, mas também constrói confiança e cria lealdade. Esse aspecto pode ser um diferencial importante, criando uma imagem de organização sólida, que cuida de cada detalhe e antecipa as necessidades dos atletas, algo que vejo como essencial para o sucesso tanto de eventos internacionais quanto dos que organizamos no Brasil.
Outro ponto crucial é o acolhimento para atletas que vêm de fora da cidade, especialmente os internacionais, que representam um grande potencial de exploração comercial. Uma das oportunidades que vejo é a criação de uma loja oficial da maratona, com venda de produtos licenciados que reforcem o vínculo do atleta com o evento. Muitos corredores como eu, gostariam de “levar uma lembrança” extra da prova, seja para si ou para presentear amigos e familiares, e oferecer essa possibilidade de forma bem estruturada pode ser uma excelente estratégia de engajamento e receita adicional. Desde camisetas especiais exclusivas e turísticas até acessórios de corrida personalizados, itens que carregam o nome da cidade e da marca da prova que possuem um apelo emocional forte e reforçam o valor simbólico da participação no evento.
Lisboa, com seu grande apelo turístico, já atrai milhares de visitantes, mas acredito que o evento poderia se beneficiar ainda mais de uma integração mais próxima com a rede hoteleira e de serviços, oferecendo pacotes exclusivos para os corredores e seus acompanhantes. Uma abordagem mais proativa, onde a logística de hospedagem, transporte e até mesmo experiências turísticas estejam associadas à inscrição, poderia tornar a maratona uma experiência completa de viagem. Esse é um diferencial competitivo especialmente relevante para eventos internacionais, onde a criação de uma jornada de viagem completa e personalizada pode atrair ainda mais atletas e transformar o evento em algo memorável não só pela corrida, mas também pela experiência cultural e turística que o acompanha.
Aqui, vale destacar um ponto interessante relacionado ao trabalho que estamos desenvolvendo no Ticket Sports, trazendo para o Brasil uma novidade que vai nessa mesma direção: parcerias com a hotelaria local.
A ideia é oferecer uma solução integrada, onde o atleta não só se inscreve na prova, mas também pode, diretamente pelo sistema, reservar hospedagem e outros serviços, sem a necessidade de buscar tudo separadamente. Esse tipo de inovação, que já vem sendo utilizado em alguns grandes eventos esportivos internacionais, tem o potencial de tornar a experiência do participante muito mais fluida e prática. Essa novidade será divulgada em breve, e acredito que possa mudar a forma como organizadores e atletas interagem com as cidades-sede dos eventos, facilitando a logística e proporcionando uma experiência mais completa.
Com iniciativas assim, buscamos repassar o conhecimento para elevar o padrão das corridas no Brasil, oferecendo não apenas um evento esportivo, mas uma jornada que engloba todo o processo, desde a inscrição até o pós-evento, tudo de forma integrada e eficiente.
No fim, participar de uma prova tão importante em Portugal, um país cuja história está profundamente entrelaçada com a do Brasil, foi uma experiência carregada de simbolismo. Como alguém que atualmente reside em Porto Seguro na Bahia, o local onde os portugueses chegaram e iniciaram a colonização do Brasil, estar em Lisboa para correr e vivenciar essa jornada trouxe um significado muito especial.
Senti como se estivesse percorrendo um caminho de volta às raízes, revivendo de maneira simbólica a conexão entre os dois países.
Cada passo pelas ruas históricas de Lisboa me lembrava não apenas dos desafios da corrida, do constante olhar no relógio e do controle pontual do meu pace de corrida, acompanhando os pacers que, de forma simpática, convidavam os corredores a se juntarem, mas também da rica história que une Portugal e Brasil. Foi como fechar um ciclo pessoal, onde o ponto de partida e o ponto de chegada se encontravam em uma linha temporal e cultural que atravessa centenas de anos. A sensação de estar correndo por uma cidade que carrega tanto significado histórico para ambos os países trouxe uma profundidade única à experiência, transformando cada quilômetro em uma jornada de conexão com o passado.
Mesmo ciente dos aspectos sombrios e das injustiças que o processo de colonização trouxe ao Brasil – como a exploração, a escravidão e o impacto devastador sobre as populações indígenas – estar em Lisboa me fez refletir sobre como essa história é complexa e cheia de camadas. Ao correr por ruas carregadas de história, senti a dualidade dessa conexão.
Por um lado, houve os avanços culturais e os laços formados entre os dois países; por outro, não podemos esquecer os danos irreparáveis deixados pela colonização. Estar ali, vivendo um momento esportivo tão positivo, me fez pensar no que podemos aprender com o passado para criar um futuro melhor, onde eventos como esse simbolizem união, respeito e superação, reconhecendo nossa história, mas buscando um caminho mais justo e inclusivo.
E por fim,
Minha visão para o futuro é onde os organizadores de eventos esportivos, apoiados por inovações tecnológicas, poderão criar um impacto ainda maior no turismo e na economia local.
A capacidade de atrair atletas de todo o mundo, oferecendo pacotes completos que vão muito além da corrida, representa uma grande oportunidade para o setor. No Brasil, esse potencial é imenso — temos grandes e bem organizadas provas no mesmo nível dos melhores eventos internacionais. Acredito que iniciativas como as que o Ticket Sports lançará em breve transformarão a forma como atletas e organizadores se conectam. Com isso, os eventos esportivos deixarão de ser apenas desafios físicos e mentais, tornando-se experiências culturais e turísticas completas. Esses fatores, caminhando juntos, criarão algo ainda mais impactante, capaz de ser um facilitador multilateral.
Nos vemos na próxima corrida! 🏃
Fontes:
- Informações sobre a EDP Maratona de Lisboa: Running Portugal
- Reportagem sobre o recorde de inscrições da Maratona e Meia Maratona de Lisboa: SIC Notícias
- Dados sobre a quantidade de concluintes Maratona de Lisboa: Blog João Lima *não oficial
- Reportagem sobre a Maratona do Rio 2024: O Globo